"Pois bem,
venha ele. O 14. O 2014. Não se acanhem nos pedidos, tão pouco nos anseios.
Andem lá. Tomo a liberdade de abrir as hostes.
Que venham, pois
então, as viagens, para fazermos de conta que libertamos a mente cheia de
sonhos deste maldito corpo cheio de defeitos e mortalidade. Que venham os
sorrisos, daqueles que enchem o peito de alívio. Sorrisos, sim, sempre, mas
também gargalhadas. Que surjam também os choros, aqueles convulsivos que nos
ensinam a compreender o valor da vida bem vivida.
Queremos música.
Música capaz de nos mostrar que os nossos dias podiam muito bem ser um filme do
Woody Allen com banda sonora à nossa escolha, e com o grau certo de
tragicomicidade. Queremos canções e livros e quadros e filmes. Que nos revolvam
a alma, que arrebatem os espíritos e incomodem os raciocínios.
Queremos letras
também. E números. Letras que façam festinhas ao espírito, desenhadas em cartas
e postais que não esperávamos. E números que recheiem talões de multibanco.
Queremos beijos.
Beijos à chuva, beijos ao sol, beijos na praia e beijos à lareira. Beijos,
afagos e outros amassos, para sabermos que não estamos aqui prostrados de solidão
e que, ao menos, valemos um quinhão de qualquer coisa para alguém. Queremos
barulhos e silêncios, ronhas e algazarras.
Queremos,
obviamente, trabalho. Não apenas um emprego, mas trabalho, daquele que, ao
menos, nos iluda de que a nossa querida comunidade não poderia nunca passar sem
nós.
Queremos chegar ao
último segundo de 2014 muito melhores do que estávamos no primeiro. Na larga
maioria das vezes, a vida somos nós que a fazemos, os desejos somos nós que os
cumprimos.
Que se lixem as
resoluções de ano novo, porque essas ninguém as cumpre ao fim de meia dúzia de
dias. Deseje-se, sonhe-se, sem autocensuras. Eu sou capaz, tu és capaz. Enterra
as desilusões e sai p’rá rua. Os votos de hoje são os feitos de amanhã.
Mexe-te. Feliz 2014."
Texto de Nelson Nunes - In Público