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sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

2014


"Pois bem, venha ele. O 14. O 2014. Não se acanhem nos pedidos, tão pouco nos anseios. Andem lá. Tomo a liberdade de abrir as hostes.

Que venham, pois então, as viagens, para fazermos de conta que libertamos a mente cheia de sonhos deste maldito corpo cheio de defeitos e mortalidade. Que venham os sorrisos, daqueles que enchem o peito de alívio. Sorrisos, sim, sempre, mas também gargalhadas. Que surjam também os choros, aqueles convulsivos que nos ensinam a compreender o valor da vida bem vivida.

Queremos música. Música capaz de nos mostrar que os nossos dias podiam muito bem ser um filme do Woody Allen com banda sonora à nossa escolha, e com o grau certo de tragicomicidade. Queremos canções e livros e quadros e filmes. Que nos revolvam a alma, que arrebatem os espíritos e incomodem os raciocínios.

Queremos letras também. E números. Letras que façam festinhas ao espírito, desenhadas em cartas e postais que não esperávamos. E números que recheiem talões de multibanco.
  
Queremos beijos. Beijos à chuva, beijos ao sol, beijos na praia e beijos à lareira. Beijos, afagos e outros amassos, para sabermos que não estamos aqui prostrados de solidão e que, ao menos, valemos um quinhão de qualquer coisa para alguém. Queremos barulhos e silêncios, ronhas e algazarras.

Queremos, obviamente, trabalho. Não apenas um emprego, mas trabalho, daquele que, ao menos, nos iluda de que a nossa querida comunidade não poderia nunca passar sem nós.

Queremos chegar ao último segundo de 2014 muito melhores do que estávamos no primeiro. Na larga maioria das vezes, a vida somos nós que a fazemos, os desejos somos nós que os cumprimos.

Que se lixem as resoluções de ano novo, porque essas ninguém as cumpre ao fim de meia dúzia de dias. Deseje-se, sonhe-se, sem autocensuras. Eu sou capaz, tu és capaz. Enterra as desilusões e sai p’rá rua. Os votos de hoje são os feitos de amanhã. Mexe-te. Feliz 2014."



Texto de Nelson Nunes - In Público





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